E se faltar adubo químico?
As jazidas minerais não são eternas. O que é eterna é a necessidade de se produzir comida. Quem sabe os alimentos que conhecemos hoje possam ser sintéticos em um futuro distante. Contudo, enquanto isso não chega, existe a preocupação e a exigência por produtos agropecuários que demandam a utilização da adubação química. De volta a afirmação inicial, as jazidas podem se esgotar em algum momento, ainda que novas sejam descobertas e exploradas. Esse fato deve ser encarado como um aviso que os processos produtivos devem ser repensados e alternativas buscadas.
A adubação verde não é exatamente uma inovação, no sentido de que seus benefícios são conhecidos há anos. De acordo com a Embrapa, Adubos verdes são plantas utilizadas para melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. Há espécies como leguminosas, que se associam a bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, transferindo-o para as plantas. Estas espécies também estimulam a população de fungos micorrízicos, microrganismos que aumentam a absorção de água e nutrientes pelas raízes.
O Brasil acompanhou aflito o desenrolar da guerra na Ucrânia (que ainda parece longe de um desfecho). O impacto na importação de potássio (K) assustou produtores, governos e empresas de consultoria e venda. Você pode ler mais sobre isso em nosso blog: https://www.geodata.com.br/e-se-faltar-fertilizante-no-mercado/
Entre as opções, está potencializar a exploração desse mineral em terras brasileiras, sendo que isso depende de ações governamentais. Outra é investir em uma tecnologia que, por vezes, parece esquecida, que é o caso da adubação verde.
Os benefícios com o uso dos adubos verdes podem ser observados nas condições químicas, físicas e biológicas do solo. Elas podem servir como barreira física, diminuindo o impacto da chuva e, consequentemente, impedindo o processo erosivo; controlam a temperatura do solo, favorecendo a vida microbiana; melhoram a capacidade de retenção de água no solo; podem, até mesmo, atuar na descompactação do solo. Como relatado, só benefícios.
Atenção, adubo verde não é “mato”, não cresce simplesmente sem planejamento. É um cultivo e, como tal, exige técnicas e acompanhamento profissional, começando pela escolha da espécie a ser utilizada, tratos culturais (preparo do solo) e a época correta de incorporação. Contudo, isso não afugentará o produtor, fazendo ele acreditar que será um investimento a mais? Bem, é um investimento, de fato, mas com retorno garantido e, importante, atrai a atenção do mercado consumidor exigente e atento quanto as questões ambientais. Esse cenário de cobrança obriga o produtor a repensar seus métodos de produção. Nesse momento, ele relembra das técnicas dos antepassados. Não se pode falar em dispensar adubos químicos, então, não se preocupe, a figura do vendedor de insumos e das empresas de consultoria não estão em risco, ao contrário, é um novo leque de opções. Contudo, se existe a possibilidade de diminuir sua aplicação, todo mundo ganha, seja pelo aspecto econômico (os preços dos adubos flutuam muito), quanto pela face ambiental. Agora, um pouco mais dos aspectos técnicos da adubação verde.
A maioria dos adubos verdes pertencem a família das leguminosas, devido a fixação biológica do nitrogênio. Temos, como exemplo, a crotalária, guandu e feijão de porco. Sorgo e milheto também podem ser utilizados. A atenção especial deve ser dada ao se escolher espécies rústicas (cresçam em ambientes onde a espécie comercial tenha dificuldade em se desenvolver), não pode hospedar pragas e doenças e, também, plantas que apresentem alelopatia (prejudiquem o crescimento da espécie de interesse comercial) e o manejo deve ser algo prático. É possível, até mesmo, fazer uma espécie de coquetel, utilizando diferentes espécies. Podem ser realizadas rotações, sucessões ou consórcio. Se for possível escolher espécies que ainda possam servir de alimento para consumo animal e humano, melhor ainda.
Os resíduos podem ser deixados diretamente sobre a superfície do solo ou incorporados, a escolha depende do objetivo que se deseja atingir (cobertura ou fertilidade do solo).
Voltando ao questionamento inicial. E se faltar adubo químico? Não se sabe o momento e se de fato isso acontecerá. Existe o risco. Nenhuma substituição seria simples, mesmo porque se fosse, já teria sido feita. Porém, é fundamental que as alternativas viáveis sejam colocadas em prática. Consultores devem voltar suas atenções para possibilidades com eficácia cientificamente comprovadas. Entender que esse é um mercado a ser explorado devido ao potencial de crescimento.